Eu já escrevi esse texto há algum tempo, mas resolvi revisar ele e trazer pra cá, pois ele conversa muito bem com tudo que eu falo por aqui.
Uma coisa que acontece muito nas nossas vidas é tentarmos passar uma informação para outras pessoas. Um dos problemas da comunicação é quando deixamos de passar dados, muitas vezes, por acreditar que aquela informação não é relevante. Afinal de contas, aquilo é óbvio.
Tem certeza?
Isso é óbvio!
Uma frase que usamos sem nos dar conta do impacto dela é "isso é óbvio" (mesmo que você não diga, você pensa).
Quando essas palavras são ditas(ou pensadas), não nos damos conta do real significado delas.
Pense por um segundo, se uma coisa é óbvia, porque houve a necessidade de dizer "isso é óbvio"?
Existe ainda um cenário pior. Esperamos que alguém faça algo e quando esse algo não é feito, ficamos indignados, dizendo novamente que "era óbvio" que aquilo devia ser feito. Agora vem a descoberta:
AS COISAS NÃO SÃO ÓBVIAS
Eu sei. É inacreditável, mas é verdade. Vamos pensar juntos.
Você como pessoa, tem uma bagagem de experiências que te permite entender o mundo de uma forma diferente das outras pessoas.
Por exemplo, você sabe que o botão vermelho normalmente quer dizer para apagar algo. Mas e para uma enfermeira? Nesse caso, o botão vermelho pode significar um pedido de ajuda, um alerta médico. Talvez um bombeiro entenda o botão vermelho como um sistema de notificações. Três pessoas diferentes, podem ter contextos diferentes. Se você disser para elas apagarem algo, só uma delas vai saber o que fazer, para as outras duas, o botão vermelho não vai ser óbvio.
O problema da obviedade é a falta de comunicação. Quando nos comunicamos, seja escrevendo algo, seja dizendo algo, seja da maneira que for, temos que nos preocupar em esclarecer todas as nossas necessidades.
Temos a tendência de acreditar que as pessoas entenderam tudo que falamos, mas nos esquecemos de que elas não têm as mesmas informações, ou quando tem, não pensam da mesma forma que nós pensamos. Existe um livro chamado Tudo É Óbvio - Desde Que Você Saiba a Resposta, que trata basicamente sobre como o senso comum pode nos enganar, levando a reflexão sobre como tomamos verdades com base apenas na nossa realidade.
Eu já tive essa discussão algumas vezes com um colega de trabalho, sobre como existem coisas que não são óbvias, mas que existem algumas que são.
Sim, eu sei que você pode acreditar que tem coisas que são óbvias, mas o problema disso é que nós começamos a acreditar que outras coisas também são.
Quando você deixa claro tudo que precisa, ou tudo que seu interlocutor precisa, você evita a zona do “ele deveria saber”.
Não, não suponha isso. Se você realmente acreditar que alguém deveria saber algo, questione se ele sabe, confirmando sua suposição.
Não existe pergunta idiota
Outra coisa muito comum em relação às obviedades, são as perguntas idiotas.
Eu sou naturalmente um cara questionador, e como tal, sempre tenho uma dúzia de perguntas na ponta da língua (algumas das quais eu até posso saber a resposta).
Acontece que nem sempre as perguntas que eu faço são imensamente originais, porque além de ser curioso, eu gosto muito de alinhar expectativas.
Se você me pedir para fazer uma tela de login, eu naturalmente vou questionar se vai haver um link para "esqueci minha senha".
Isso poderia ser considerado óbvio em vários cenários, só que é importante destacar que perguntar isso não é idiota. O motivo é simples, existem casos em que o comportamento é diferente do esperado, o que pode resultar em uma entrega diferente do esperado (essa pode não ser uma funcionalidade que vai ser entregue agora, por exemplo).
Questionar é algo que deve ser feito sempre, porque permite que você entenda exatamente o que as pessoas estão esperando de você.
Seja no trabalho ou na vida pessoal, questionar te permite alinhar e obter detalhes sobre uma determinada situação. Existem pessoas que tem uma tendência a diminuir os outros quando escutam perguntas que sabem a resposta, e por consequência, acham que é uma pergunta idiota.
Não se sinta mal quando escutar essas pessoas, elas que são idiotas (Não seja um idiota).
O óbvio precisa ser dito
Quando você estiver em um grupo de pessoas, é preciso estar atento a comunicação, que se torna mais complexa:
Isso traz uma complexidade maior, o que requer maior alinhamento. Que vem através da obviedade (que não é óbvio como já falamos), então você precisa esclarecer com todas as pessoas presentes as expectativas.
Quais são os resultados esperados? Quando são esperados? Existe alguma informação que precisa ser dita? Existem lugares onde as pessoas podem pesquisar mais informações?
Mesmo que você não esteja liderando essa reunião, é seu papel contribuir para o alinhamento de todos, seja fazendo as tais “perguntas idiotas”, ou até mesmo provocando as pessoas a fazerem elas.
Uma conclusão óbvia
A idéia fundamental deste texto é esclarecer que a nossa realidade é muito diferente do outro, e isso leva a um grande ruído na comunicação. Quando você deixa de ter coisas implícitas (porque elas parecem óbvias) e começa a deixar tudo mais claro, seu processo de comunicação melhora em todos os aspectos.
Pode parecer óbvio para você que pular do 3º andar vai resultar em um acidente grave, mas para uma criança isso pode não ser verdade.
Afinal, ninguém nasce mestre, a gente busca ser um.
Links
https://angeliski.com.br/2018/02/05/a-obviedade-da-incerteza-nao-e-obvio/
https://angeliski.com.br/2020/11/03/comunica%C3%A7%C3%A3o-violenta-porque-a-gente-gosta-%C3%A9-de-pancadaria/
https://diegoeis.com/gerenciando-o-produto-por-resultados-outcomes-e-nao-por-entregas-outputs/
https://getlighthouse.com/blog/developing-leaders-team-grows-big/
https://angeliski.com.br/2018/02/05/a-obviedade-da-incerteza-nao-e-obvio/