Em 1972 as forças armadas dos EUA inventaram os termos Soft Skills e Hard Skills através dos manuais de treinamento para os militares.
O termo na época era sobre humanizar o tratamento dos militares de modo que eles tivessem uma iteração mais agradável.
Eu gosto de contar essa história porque ela ilustra bem o seguinte ponto: O exercito americano se orgulha de ter os soldados mais bem preparados, mais bem treinados, mais tudo isso e aquilo, e ainda assim eles tiveram que parar em algum momento e falar: Isso não é suficiente, além de toda essa habilidade técnica, nosso soldados precisam saber como se comportar ao lidar com as pessoas.
Claro que a palavra comportar aqui pode não ser ideal, mas ela é oportuna porque ela fala sobre algo fundamental das soft skills: comportamento.
Uma olhada no dicionário já nos diz muito:
Conjunto das atitudes específicas de alguém diante de uma situação, tendo em conta seu ambiente, sociedade, sentimentos etc.
Acontece que essas habilidades tem relação direta com o seu comportamento. Comunicação? Inteligência Emocional? Aprendizado? Iniciativa? Visão Sistemica?
Seja qual delas estiver te dando trabalho, a relação de como você se comporta diante de uma situação (ou várias) é o fator determinate de sucesso.
Isso nos leva a primeira coisa importante:
Comportamento pode ser aprendido
Chega daquele papo de lider nato, nascido para ser comunicador e tudo isso.
Habilidades comportamentias podem ser aprendidas e desenvolvidas como qualquer outra.
"Então porque é mais díficil aprender isso do que habilidades técnicas?"
O que muda entre essas duas habilidades é o espaço de prática.
Imagine que você quer aprender um novo framework para o trabalho, o VueAct.
Você lê a documentação, instala na sua máquina e passsa o fim de semana práticando como fazer uma aplicação, publicar em produção e muitas outras coisas que são necessárias para dominar aquela nova habilidade. Só que como você pode praticar uma comunicação eficaz?
Você não pode ficar o fim de semana falando a mesma frase para a sua esposa, ou refazendo o mesmo diálogo o dia inteiro só para testar novas maneiras de falar a mesma coisa.
Ou melhor, você até pode, mas a efetividade disso é baixa se comparada ao fim de semana praticando uma nova tecnologia.
Percebe como a dificuldade aqui não e tão relevante? O problema maior é: como práticar de maneira efetiva essas habilidades?
Isso nos leva a segunda coisa:
Reflita sobre seus erros e acertos
A reflexão é uma ferramenta essencial para quem quer desenvolver habilidades comportamentais de maneira eficiente. Se você não é uma pessoa preocupada com ser e estar melhor que antes, o seu caminho vai ser bem mais longo que o normal.
Eu digo isso pelo motivo já citado antes: Praticar essas habilidades não é tão simples, logo você precisa aproveitar bem cada uma das oportunidades que aparecem. Tirar o máximo delas.
Existem algumas maneiras de fazer isso: retrospectivas pessoais, diário de sentimentos, terapia e qualquer outra ferramenta que ajuda a sua pessoa a ter uma análise do que aconteceu.
Nesse processo é importante ter em mente que as falhas não são ruins, mas oportunidades de aprendizado (a gente vai falar mais disso em outro momento).
Se você tem falhado em uma mesma coisa várias vezes, significa que você precisa dar mais atenção a isso, já que os aprendizados não tem sido efetivos.
Isso nos leva a terceira coisa:
Essa não é uma jornada de uma pessoa só
Quando se trata de habilidades comportamentais a necessidade de interação social cresce 1000%
(Fonte: Arial 12)
Habilidades comportamentais tem a ver com as interações que você tem com outras pessoas.
Algumas acontecem devido a regras ou expectativas sociais, outras por conta de expectativas e regras que nós criamos para nós mesmos visando projetar uma imagem social. Confuso?
Simplificando: Você se importa com o que os outros pensam, mesmo que não entenda isso ou acredite que não.
Antes de seguir adiante eu quero explicar o sentido da palavra importar aqui. Por muitos anos eu entendia essa palavra como uma coisa sentimental, amorosa, pessoal: "Aquele pessoa importa pra mim".
Em alguns casos isso é verdade, mas quando estamos falando desse pensamento com foco na sociedade, o sentido da palavra deve ser visto como impacto. Vamos destrinchar isso, uma frase comum de se escutar é:
"O que os outros pensam não me importa", isso poderia (e deveria no nosso caso) ser alterado para "O que os outros pensam não me impacta".
Eu espero que essa sutil mudança já tenha começado a demonstrar como é perigosa essa linha de raciocínio.
O que a pessoa que te lidera pensa de você não te impacta?
O que sua esposa/marido pensa de você não te impacta?
O que seus amigos pensam de você não te impacta?
O que o entrevistador pensa de você não te impacta?
Ao perceber que o pensamento dos outros te impacta (você gostando ou não) começamos a entender quão valiosas são as habilidades comportamentais, já que elas são uma grande ferramenta de interação social.
Toda essa volta foi para te explicar que para desenvolver habilidades comportamentais você vai precisar incluir pessoas na sua jornada. Quem é aquela pessoa que é um grande comunicador na sua opnião? Ou aquela pessoa sempre controlada, calma, serena?
Conhecer e conviver com essas pessoas te ajuda a ter um aprendizado sobre diversas situações antes que elas aconteçam com você.
Além disso, construir relações profundas te ajuda a receber e dar melhores feedbacks que são uma ferramenta valiosa de desenvolvimento.
Partiu Praticar!
Achou que ia ser só conversa né? Erroooou.
O exercício tem a ver com a reflexão que eu citei antes.
A prática vai ser em duas partes: Primeiro eu quero que você anote em algum lugar a resposta das seguintes perguntas (para cada uma das habilidades que você quer aprimorar):
Essa habilidade é importante pra mim? Por que?
Eu me considero uma pessoa iniciante, intermediária ou avançada nessa habilidade?
Qual problema eu quero resolver ao desenvolver essa habilidade? (em outras palavras, porque essa habilidade importa pra mim?)
Esse exercicio é instrospectivo e tem um objetivo muito simples: Você precisa entender sua relação com essas habilidades. Se você é como eu era anos atrás, provavelmente nunca parou nenhum segundo para pensar sobre isso (eu já adianto que a primeira vez pode ser cansativa, não desista).
A segunda parte consiste em encontrar três pessoas de sua confiança para fazer as seguintes perguntas para elas:
Você me considera uma pessoa iniciante, intermediária ou avançada nessa habilidade?
Você me pediria um conselho se tivesse dificuldade com essa habilidade?
Qual você considera a minha maior fraqueza quando o assunto é essa habilidade?
Essa segunda etapa tem relação com entender como o mundo te enxerga. É muito comum criarmos em nossa mente uma visão diferente da realidade, pois ela tem pontos cegos que só conseguimos eliminar (ou reduzir), com ajuda dos outros.
O importante desse exercicio é você exercitar essa reflexão, tanto interna quanto externa. Vai te ajudar a começar a ter mais atenção em quem você é e em quem você quer ser.
Fechando
A ideia aqui foi dar uma introdução nessas habilidades comportamentais e remover alguns mitos que a sociedade veio colocando na nossa cabeça. Não se engane, é uma coisa que vai exigir dedicação de você, mas que o resultado é muito satisfatório.
Se você quiser trocar uma ideia sobre o resultado dos exercicios (ou de algum dos pontos que eu coloquei aqui), fique a vontade pra me mandar uma mensagem.